Importância da veterinária na sociedade: doenças infecciosas

Muitas pessoas acham que veterinário cuida de bichinhos, e só. Mal sabem elas, coitadas, a importância dessa profissão em suas vidas. Sim, cuidar do seu cachorrinho ou do seu gatinho é a nossa função; mas também ter certeza de que a carne, o leite, o ovo, o peixe, ou o frango que você come é de qualidade, livre de qualquer microorganismo ou substâncias químicas que possam vir a te causar algum mal. E uma das áreas de grande importância para a industria de alimentos é a infectologia. Afinal, para se ter uma carne ou um leite de qualidade no mercado, tudo começa com um boi (ou uma vaca) saudável. É pela carne que os humanos podem adquirir parasitoses como a teníase, ou pelo leite que pode servir de um meio de disseminação da brucelose ou da tuberculose. Mas não se limita aos animais de produção: cães podem ser reservatórios domésticos da Leishmania sp., gênero de protozoários responsáveis pela leishmaniose, ou nosso amigos felinos que podem ser portadores e transmissores do Toxoplasma gondii, agente da toxoplasmose. Ou aquela sua linda ave, que canta que é uma maravilha, mas você mal sabe que ela pode ser portadora da Chlamydophila psittaci, bactéria causadora de uma doença conhecida como psitacose em humanos.

Ou seja, se trata de uma área gigante, quase um mundo, onde no final das contas o objetivo é controlar todas as formas de infecções para tentar garantir uma vida um pouco mais saudavél a população. Nesse meu primeiro post, vamos começar devagar, e falar um pouco de duas doenças de grande importância veterinária e relacionadas a saúde pública: a tuberculose e a brucelose.

Tuberculose

Assim como nos humanos, a tuberculose bovina é um verdadeiro problema. Não se tem dados estatísticos precisos ainda a respeito das perdas econômicas causadas por essa doença, mas sabe-se que é muito alta. Aqui, a tuberculose é causada por um parente do Bacilo de Koch, sendo a espécie em questão a Mycobacterium bovis, que não satisfeita em causar problemas nos bovinos, também pode causar tuberculose em humanos, com os mesmos sintomas e manifestações clínicas. Ou seja, a infecção por essa bactéria em humanos é indistingüível clinicamente, sendo necessário um laboratório especializado para a diferenciação de espécie.

Microscopia eletrônica de varredura mostrando a M.bovis
Não, não são algas… são Bacilos de Koch!

Em humanos, o diagnóstico da tuberculose é relativamente fácil, sendo feito através da pesquisa de BAAR, onde um simples escarro é o material clínico perfeito para o exame. Mas vaca não escarra! Vacas tossem (sim, é verdade), mas escarrar já seria demais. Nesses animais, o diagnóstico é um pouco mais complicado, não vindo ao caso as técnicas envolvidas.

Na tuberculose, a grosso modo, é como se fossem formadas “pedras” no pulmão, induzidas pela presença da Mycobacterium, seja ela a bovis ou a tuberculosis. A bactéria induz tal destruição das células do sistema imune que células gigantes especializadas são chamadas; estas retiram água do pús formado (destruição celular gera pús) e começam a depositar sais de cálcio, numa tentativa desesperada de parar o crescimento da M.bovis. Tal “pedra” é chamada de tubérculo; daí o nome da doença, tuberculose. Para os bovinos, é uma doença sem cura: animal infectado tem que ser abatido. Os nossos amigos de quatro patas, os cachorros e os gatos, são bastante sensíveis à tuberculose; morrem rapidamente e nem sempre a necrópsia é feita para se fechar o diagnóstico. Contraem a doença de seus donos tuberculosos, mas também podem ser infectados pela M.bovis caso exista uma vaca doente por perto, e TUSSINDO (lembre-se disso, vacas tossem, aquele dito, “nem que a vaca tussa”, não tem embasamento científico).

É por causa da tuberculose bovina, que por se apresentar com um alto potencial zoonótico, que algumas medidas extremas foram tomadas. Por lei, é proibida a criação de bovinos em áreas urbanas. A pasteurização, famoso processo onde se faz a fervura do leite por alguns poucos segundos em altas temperaturas e depois o resfria bruscamente, foi desenvolvida por causa da tuberculose bovina, visto que cerca de 10% das vacas infectadas liberam a M.bovis no leite.

Brucelose

Era uma vez um médico inglês, chamado David Bruce, que foi enviado pela marinha inglesa para investigar uma misteriosa doença na ilha de Malta, chamada na época (e em alguns lugares até hoje) de febre de Malta, onde as pessoas infectadas tinham como sintomas febre ondulante, suor intenso e algumas apresentando dores nas articulações. Bruce fez um trabalho maravilhoso: descreveu toda a progressão da doença em humanos, descobriu a origem do problema e ainda isolou o agente etiológico envolvido, ao qual deu o nome de Micrococcus mellitensis. A origem do problema eram as cabras: humanos que bebiam seu leite eram os susceptíveis à doença; daqui nasceu o costume de ferver o leite (não só de cabra) antes do consumo. Mais pra frente, com mais estudos, essa bactéria descoberta por Bruce foi renomeada, e em homenagem ao seu descobridor, esse gênero bacteriano recebeu o nome de Brucella.

Essa bactéria é mais uma responsável por grandes perdas econômicas no campo, onde afeta cabras, ovelhas, porcos e bovinos, causando principalmente abortos nessas espécies. Na cidade, também pode infectar cães, e raramente cavalos. É uma zoonose, ou seja, é transmitida também aos humanos. Nas fêmeas, a Brucella causa uma placentite (inflamação da placenta), o que acaba em aborto do feto no ultimo trimestre da gestação (ou últimas semanas nos cães). Se não ocorrer aborto, o animal pode vir a nascer, mas debilitado. Já nos machos, como eles não abortam (oh rly?), as lesões ocorrem em seus orgãos genitais. De uma forma geral, ocorre uma inflamação no epididimo, a vesícula seminífera, a próstata e o saco escrotal (esse último principalmente em cães).

Tratamento existe, mas é caro, demorado e nem sempre eficaz. Logo, quando falamos de animais, todos os que forem positivos para brucelose devem ser sacrificados (ou abatidos, ou euthanasiados, escolha o termo).

Em humanos, o principal meio de transmissão da brucelose é pelo consumo de leite ou derivados que não tenham sofrido tratamento térmico adequado. Nas mulheres, o principal sintoma são dores articulares, enquanto nos homens, ocorre inflamação dos órgãos genitais como o saco escrotal, e o pior de tudo, pode haver impotência sexual (e sem Viagra que dê jeito).

E aqui termino meu primeiro post. Espero que tenham gostado. No mais, estou disponível para receber críticas, sugestões, elogios, chingamentos e etc. Beijo na mamãe, no papai, nas crianças e até o próximo post!

13 Responses to Importância da veterinária na sociedade: doenças infecciosas

  1. Evelin disse:

    Parabéns, gostei muito!!!

  2. tatina paulain da costa disse:

    As informaçoes ai contidas foram de suma importancia para a conclusao de um trabalho de faculdade.A maneira didática facilitou a compreençao para mim.

  3. Vanessa disse:

    Como é bom poder ter orgulho (um orgulho saudável, claro) do que se faz!! E fazer Veterinária, ser Veterinária é demais!! Cuidar dos animais, incluindo aí o ser humano, nos faz ver que bela profissão escolhemos. Parabéns!!

  4. Ivanez Minosso disse:

    Boa tarde, morro em Salvador e um amigo meu esta com a bacteria da ovelha segundo o medico disse. Gostaria de saber mais detalhes pois o medico falou que nao tem cura, se manifestou no pe dele, da muita coçeira e fazem ja uns 3 meses. Alguem pode me dar alguma dica.
    Obrigada,
    Ivanez

  5. kerollem disse:

    eu acho de + ser veterinaria quando crecser quero ser tbm mas só que já so praticament por que eu brinco com o meu cacorro quando ele se machuca de veterinaria eu sou kerollem tenho 11 anos estou na 7 série entrei adinatada e esse é o meu comentário

  6. kerollem disse:

    gente é legal ser veterinaria pq eu adoro animais um bejão galera veterina hsahashasgashahs 🙂

  7. José Avila disse:

    A Medicina Veterinária vai bem mais além do que a sociedade imagina, e deveria ser bem mais reconhecida, tal qual sua necessidade para o ser humano.

  8. regeane salles disse:

    Parabéns aos orgaos responsaveis ,pela saúde do nosso país,E quando vao informar a midia o nosso valoroso papel?obrigada

  9. Débora disse:

    Ajudou muito no trabalho escolar da minha filha!

    Obrigado

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